Chiquinha Gonzaga 28/02/2025 - 07:56
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Chiquinha Gonzaga foi uma mulher negra, musicista, compositora, pianista e maestrina brasileira, reconhecida como uma das maiores figuras da música nacional. Pioneira do gênero “choro”, ela também foi a responsável pela criação da primeira, e uma das mais famosas, marchas carnavalescas: "Ó Abre Alas", lançada em 1899. Ao longo de seus 87 anos, Chiquinha deixou um profundo legado para a história da música e do Brasil. Além de sua notável carreira musical, ela também desempenhou um papel importante na causa abolicionista, sendo uma defensora ativa da liberdade e dos direitos das pessoas negras. Neste 90º aniversário de sua morte, ocorrida em 28 de fevereiro de 1935, o Arquivo Público do Paraná presta uma justa homenagem a essa mulher extraordinária e transformadora, preservando documentos que testemunham sua trajetória e a importância histórica de seu legado.
Francisca Edwiges Neves Gonzaga nasceu no Rio de Janeiro em 17 de outubro de 1847, filha de José Basileu Neves Gonzaga, major do Exército Imperial Brasileiro, e de Rosa de Lima Maria, filha de uma escravizada. Aos 16 anos, casou-se com Jacinto Ribeiro do Amaral, por decisão de seu pai, e teve três filhos com ele. Jacinto era empresário e comandante do vapor São Paulo, embarcação que encalhou em Guaratuba, no litoral Paraná, em 1868, quando retornava da Guerra do Paraguai. O Arquivo Público do Paraná preserva ofícios que documentam esse naufrágio, um acontecimento dramático que envolveu a família de Chiquinha e teve grande repercussão na época.
Chiquinha largou seu marido poucos anos após o acidente, em 1870, já que o casal enfrentava inúmeros conflitos oriundos por Ribeiro do Amaral não aceitar a dedicação da esposa à música e desejar que ela abandonasse o piano. Na época, o divórcio era um escândalo, verdadeiro tabu, o que fez com que Chiquinha fosse afastada de sua família e perdesse a guarda dos filhos João Gualberto, Maria do Patrocínio e Hilário. Chiquinha tinha 23 anos.
A partir de 1877, após enfrentar desilusões amorosas e o abandono familiar, Chiquinha encontrou na música seu maior consolo e a força para recomeçar. Embora o profissionalismo feminino fosse algo raro e pouco aceito na sociedade da época, ela desafiou os padrões e se tornou uma das figuras mais respeitadas no cenário musical brasileiro – foi homenageada pelo músico mais popular do Rio de Janeiro, o flautista Joaquim Callado, considerado um dos criadores do gênero chorinho. A decisão de viver da música causou imenso impacto social, já que Chiquinha não se conformava com o papel subalterno que a tradição da época impunha às mulheres. Mesmo assim, ela persistiu e se tornou maestrina, criando diversas composições e marchinhas que se popularizaram, tornando-se imortais.
Além de sua contribuição musical, Chiquinha foi uma fervorosa defensora de causas sociais e políticas, especialmente na luta pela abolição da escravatura e pela proteção dos direitos autorais dos compositores. Ela se posicionou contra a opressão e injustiça, utilizando sua arte e sua visibilidade para dar voz àqueles que, como ela, eram marginalizados. Em sua vida pessoal, ela encontrou no relacionamento com João Batista Fernandes Lage um companheiro com quem permaneceu até o fim de sua vida. Juntos, viveram uma relação de respeito e apoio mútuo, o que proporcionou a Chiquinha a estabilidade emocional necessária para seguir em sua carreira e continuar sua luta.
Chiquinha Gonzaga não foi apenas uma grande musicista e instrumentista, mas uma mulher que desafiou as convenções morais de sua época, rompendo barreiras raciais e de gênero. Seu legado, tanto musical quanto político, continua sendo uma fonte de inspiração para todas e todos que buscam transformar a sociedade por meio da arte e do ativismo. Hoje, passados 90 anos de sua morte, a relevância de sua contribuição à música brasileira e à luta por igualdade permanece viva, sendo celebrada não apenas no Carnaval, mas em diversas manifestações culturais que reconhecem a importância de sua obra. Ela continua a ser um ícone de resistência e uma figura imprescindível para a história do Brasil, e o Arquivo Público do Paraná se dedica a preservar documentos que relatam parte dessa história, garantindo que futuras gerações possam conhecer e valorizar sua arte.