Dia da Consciência Negra: Documentos Históricos do Paraná Revelam a Luta pela Abolição 19/11/2024 - 18:54
Hoje, 20 de novembro, o Brasil celebra o Dia da Consciência Negra, data que relembra a luta e a resistência da população negra ao longo da história. No Paraná, o Arquivo Público preserva documentos históricos que ajudam a compreender a trajetória da escravidão, a conquista da liberdade e os desafios enfrentados pelos libertos. Esses registros revelam como o processo de abolição foi vivenciado no estado, além de destacar o impacto da escravidão na formação econômica e social paranaense.
A Escravidão no Paraná: Dados do Recenseamento Imperial
A escravidão esteve presente no Paraná desde os primeiros ciclos econômicos da região. No recenseamento de 1872, a Província do Paraná possuía uma população de 126.722 habitantes, dos quais 10.560 eram escravizados, representando 8,33% do total. A produção de erva-mate e a criação de gado foram sustentadas, em grande parte, pela mão de obra escravizada, evidenciando o papel central dessa população no projeto econômico local.
Abolicionismo e Documentos sobre a Alforria
Movimentos abolicionistas no Paraná ganharam força ao longo do século XIX, promovendo debates e ações que culminaram na abolição. Documentos preservados, como uma carta de alforria, mostram o complexo processo de libertação, que nem sempre era gratuito. Escravizados podiam comprar sua liberdade com pecúlio acumulado ou recebê-la por meio de testamentos e inventários de seus senhores.
Um exemplo significativo é o registro da solicitação de matrícula de uma escravizada chamada Joaquina, herdada por Tobias de Almeida e Silva. Este documento reflete como os escravizados eram tratados como mercadorias e como a obtenção da liberdade envolvia intrincadas questões legais.
A Lei do Ventre Livre e o Fundo de Emancipação
A Lei do Ventre Livre, de 1871, marcou uma etapa importante na luta pela abolição. O Fundo de Emancipação, criado por essa lei, financiava a liberdade de escravizados por meio de recursos provenientes de impostos e doações. No Paraná, registros desse fundo mostram os esforços para libertar escravizados em municípios como Ponta Grossa, onde quadros detalham os números de libertos durante o período.
Abolição e a Reação Paranaense
Com a assinatura da Lei Áurea em 13 de maio de 1888, a abolição foi recebida no Paraná com grande entusiasmo. Telegramas e correspondências oficiais revelam a rápida disseminação da notícia. O presidente da Província, José Cesário de Miranda Ribeiro, notificou as cidades imediatamente, e Curitiba foi palco de efusivas comemorações.
Segundo a "Gazeta Paranaense", a capital celebrou por três dias consecutivos, com fogos de artifício, música, desfiles e discursos que mobilizaram diversas classes sociais. A cidade foi decorada com bandeiras e iluminada, simbolizando a alegria coletiva pela conquista da liberdade.
Comemorar e Refletir
A abolição da escravatura no Paraná foi um marco importante, mas também deixou desafios para a população liberta, que enfrentou dificuldades para integrar-se como cidadãos plenos. O Dia da Consciência Negra nos convida a refletir sobre essa história, destacando a importância de resgatar a memória dos que lutaram contra a escravidão e valorizar as contribuições da população negra na construção da identidade paranaense.
Os documentos preservados no Arquivo Público do Paraná são testemunhos dessa trajetória, permitindo que as novas gerações compreendam a profundidade e a complexidade do processo abolicionista. Amanhã, ao celebrarmos essa data, que possamos não apenas lembrar o passado, mas reafirmar o compromisso com a igualdade e a justiça social.