No dia 11 de dezembro é celebrado o Dia Nacional do Engenheiro. Nesta data tão importante, o Arquivo Público do Paraná decidiu trazer duas figuras ilustres no campo da engenharia que se destacaram não somente no Paraná, mas no Brasil inteiro: os irmãos Rebouças. Esse sobrenome familiar que dá nome a ruas, bairros e até mesmo municípios ao redor do Brasil carrega uma história de lutas, superações e grandes conquistas.

André e Antônio Rebouças nasceram em 1838 e 1839, respectivamente e, netos de uma escravizada alforriada, foram os primeiros negros a entrarem em uma universidade no Brasil. Os dois ingressaram na Escola Militar do Rio de Janeiro em 1854 e conquistaram seus diplomas de engenheiros militares cinco anos depois, em 1859. Já no ano seguinte, viajaram para a Europa a fim de aprimorar seus estudos, passando por países como França, Holanda e Inglaterra. Ao retornarem para sua terra natal, agora especializados na construção de portos e ferrovias, foram nomeados pelo então Ministro da Guerra, Polidoro Jordão, para vistoriar as fortalezas do sul do Brasil. Além disso, André Rebouças participou brevemente da Guerra do Paraguai como 1º Tenente Engenheiro.

Os irmãos possuíam grande desconfiança em relação às elites provinciais, e sofreram ao longo de toda a vida com o racismo e o preconceito encrustados na sociedade brasileira – fator que é ainda mais acentuado em virtude da Abolição da Escravatura ter sido aprovada tão tardiamente, apenas em 1888, no Brasil. Ainda nesse sentido, André Rebouças teve papel importantíssimo nas lutas abolicionistas pelo fim da escravidão, além de cunhar a expressão “democracia rural” que, após algum tempo, daria embasamento aos ideais de reforma agrária. Ele também criou – em conjunto com o parlamentar Joaquim Nabuco – a Sociedade Brasileira contra a Escravidão no ano de 1880. Ademais, ele aproveitou de sua proximidade com o Imperador Dom Pedro II para propor a distribuição de pequenos lotes de terra para ex-escravizados.

Dentre as principais contribuições no campo da engenharia dos pioneiros irmãos Rebouças estão a construção da Estrada da Graciosa (1864-1873), na qual Antônio foi nomeado Engenheiro-Chefe da obra; a Estrada de Ferro Curitiba-Paranaguá (1872-1885), da qual participaram ativamente do planejamento e da execução; a elaboração do Sistema Acari, plano de abastecimento que resolveu a crise de falta de água no Rio de Janeiro, idealizada por André Rebouças. O Parque Nacional do Iguaçu também faz parte do imenso legado deixado pelos engenheiros, assim como o chafariz da Praça Zacarias, localizada no centro de Curitiba. 

O Arquivo Público do Paraná tem em seu acervo o Fundo documental da Administração Provincial, ao qual possui alguns documentos que mencionam os irmãos Rebouças, tais como um ofício enviado por Antônio para o Vice-Presidente da Província do Paraná em 1873, por meio do qual trata da concessão relativa à estrada que liga as localidades de Morretes e Barreiros, e outro ofício que versa sobre um relatório das atividades do engenheiro, o que demonstra sua atuação em conjunto com a administração provincial da época.

É através de documentos como esses que podemos recordar a história de dois dos engenheiros mais brilhantes e talentosos do Brasil que, além de serem extremamente respeitados e reconhecidos por seus feitos na engenharia, tornaram-se também símbolos de resistência contra o racismo e as desigualdades sociais que atravessaram o país no século XIX.