Tiradentes 22/04/2025 - 08:52

A Inconfidência Mineira, movimento de contestação do final do século XVIII, foi influenciada pelas ideias iluministas da Europa e da América do Norte. Seus participantes pertenciam majoritariamente à elite colonial — mineradores, fazendeiros, padres com interesses comerciais, advogados, funcionários públicos e militares. Muitos deles tinham vínculos com as autoridades locais e alguns ocupavam cargos na magistratura. Parte dos inconfidentes estudou na Europa, onde teve contato direto com o pensamento iluminista.

Joaquim José da Silva Xavier, conhecido como Tiradentes, destoava dos demais inconfidentes por sua origem mais humilde. Órfão e com dificuldades financeiras, perdeu suas propriedades por dívidas e fracassou no comércio. Ingressou na carreira militar em 1775 como alferes e, nas horas vagas, atuava como dentista — profissão que lhe rendeu o apelido de Tiradentes.  No final do século XVIII, Minas Gerais enfrentava declínio econômico devido à queda na produção de ouro e à pressão fiscal da Coroa. Tiradentes, embora não fosse da elite, também foi afetado por essas medidas, especialmente após perder o comando de seu destacamento. A cobrança rigorosa de impostos, como as cem arrobas de ouro anuais e a temida derrama, gerava tensão, especialmente entre os membros da elite, principais devedores da Coroa.

Os inconfidentes começaram a organizar o movimento de rebeldia nos últimos meses de 1788, motivados pela iminente decretação da derrama. No entanto, seus planos não chegaram a ser executados. Em março de 1789, a derrama foi suspensa, e os conspiradores foram delatados por Silvério dos Reis, um dos integrantes próximos ao grupo. A denúncia deu início a uma série de prisões em Minas Gerais e, posteriormente, à detenção de Tiradentes, no Rio de Janeiro.

O processo judicial, conduzido na capital da Colônia, foi longo e só se encerrou em 18 de abril de 1792. Tiradentes, junto a outros réus, foi condenado à morte por enforcamento. No entanto, todas as demais sentenças foram comutadas para o banimento — ou seja, a expulsão do território brasileiro. Na manhã de 21 de abril de 1792, Tiradentes foi executado. Seu corpo foi esquartejado e sua cabeça exposta em praça pública, em Ouro Preto, como forma de advertência à população.

Quais eram os objetivos dos inconfidentes? A resposta não é simples. Em linhas gerais, a maioria pretendia proclamar uma República, inspirada na Constituição dos Estados Unidos. No entanto, a importância da Inconfidência Mineira vai além de seus objetivos imediatos: ela ganhou destaque principalmente por sua força simbólica, especialmente com a transformação de Tiradentes em herói nacional. Esse reconhecimento, porém, não aconteceu de forma imediata. Durante o período colonial, prevaleceu a versão imposta pelos colonizadores. Somente com a Proclamação da República, o movimento passou a ser valorizado, e a figura de Tiradentes foi elevada à condição de mártir republicano.

A imagem heroica de Tiradentes foi reforçada por sua postura no julgamento — ao assumir sozinho a responsabilidade pela conspiração — e, principalmente, por seu sacrifício final. Após a proclamação da República, esse gesto foi ressignificado, contribuindo para a construção de um mito nacional. A data de sua execução, 21 de abril, foi transformada em feriado, e Tiradentes passou a ser representado com traços semelhantes aos de Jesus Cristo, reforçando sua imagem de figura redentora e símbolo da luta pela liberdade.

Em dezembro de 1889, a principal praça de Curitiba recebeu o nome de praça Tiradentes.  Em 1922, a colônia italiana de Curitiba doou a estátua de Tiradentes que ormanenta o local e recebe homenagens todos os anos, no dia 21 de abril.