Microrregião de Cerro Azul - Adrianópolis - CRQ Córrego do Franco

CRQ COMUNIDADE REMANESCENTE QUILOMBOLA CÓRREGO DO FRANCO

 
Comunidade Córrego do Franco
 Localizada a 124 quilômetros da sede do município, a comunidade está na terra há cinco gerações. São aproximadamente 250 anos. Morador da comunidade, Ricardo Morato que foi registrado em 1911 diz que seus os seus ancestrais, tataravôs, bisavós, avós e pais já nasceram e se criaram no Córrego do Franco e que os mais antigos chegaram do porto de Iguape e alí se estabeleceram. Ricardo relata que sua “gente” (família extensiva) era dona de toda a terra da região e que ali não existiam pessoas brancas, “só negras”.

O transporte era feito por canoas pelo rio Pardo até Ribeira de Iguape. Na lembrança coletiva da comunidade os negros eram pessoas “roubadas” da África, trazidas para o Brasil contra a vontade e que ficavam trabalhando escravizadas, por isso fugiam da escravidão procurando terra para viver em liberdade. Sobre a convivência com os indígenas, Miguel Morato relata: “Os antigos chegaram e aqui era tudo mato e viveram com os índios desta região. Eu cresci encontrando panelas de barro e mão de pilão de pedra deles”.

Faz parte também da memória coletiva os fatos que os mais antigos contavam, dentre os fatos, o acampamento do General Lamarca durante a Revolução de 30 quando Barra do Turvo passou a fazer parte de São Paulo. Após a fuga do General Lamarca, as tropas do Exército acamparam no local. Também da década de trinta lembram de mortes de famílias inteiras vítimas de malária e tifo. “Os únicos remédios eram ervas do mato”, relatam ainda que ainda hoje muitas pessoas morrem por falta de socorro. “É preciso passar por Barra do Turvo, Iporanga, Apiaí e Ribeira, todos esses, municípios paulistas, pela ausência de estradas no lado do Paraná”.

 
Comunidade Córrego do Franco
 Também faz parte das lembranças dos mais velhos, o cemitério antigo, desativado, que atualmente está no município de Barrra do Turvo, São Paulo, onde foram enterrados os primeiros quilombolas das comunidades do Córrego do Franco, de São João, de Estreitinho e de Três Canais. Reclamam que atualmente parte do cemitério está sob a capela católica e sob barracão da mesma. A outra parte está no pátio da igreja, onde é o jardim. “Parte da história do nosso povo só poderá ser resgatada quando a sociedade respeitar os nossos ancestrais. Espero, tenho fé, que hoje, após tantos anos de isolamento e após o reconhecimento das comunidades pela Fundação Palmares, aconteçam realmente as políticas públicas das quais estivemos privados durante séculos” diz Nilton Morato, liderança jovem, neto de Ricardo Morato e morador na comunidade, apesar de trabalhar na prefeitura de Barra do Turvo, para onde se dirige todos os dias. Agricultura, criação de animais, extrativismo e pesca em rio com anzol são divididas por família.

A casa de farinha é presença histórica do quilombo. Quanto às expressões culturais, moradores dizem que o povo era muito alegre, fazia romarias, bailes, dança de São Gonçalo, mesa dos anjos e tinha grupo de capoeira. “Hoje, todo mundo é evangélico”, informa Miguel Morato.

 

GALERIA DE IMAGENS

  • Socorro Araújo - educação
    Sr. Ricardo Morato dos Santos
    Alexandra e Nadia
    A Sra. Sidônia e crianças da Comunidade.Pesquisa: Cristina de SouzaFoto : Fernanda CastroData: Novembro de 2005
    Socorro Araújo - educação
    Sr. Ricardo Morato dos Santos
    Alexandra e Nadia
    A Sra. Sidônia e crianças da Comunidade.Pesquisa: Cristina de SouzaFoto : Fernanda CastroData: Novembro de 2005